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A forma das coisas (ou a pobreza das mesmas): Pobres Criaturas e seu narrador em elipses
My dear, you have been badly treated all your life by selfish, greedy, silly men. Yet they are not to blame. They too were horribly educated Minha querida, fora maltratada toda sua vida por homens egoistas, gananciosos e estúpidos. No entanto, por tudo eles não são culpados, pois também foram terrivelmente educados. Adaptações cinematográficas são sua…
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ARREBOL QUADRADO 8: Os caminhos da Libido (1924), por Nina Rodrigues
A libido, em sua substância, trás toda a sua história pregressa, que se acumula e transmite, como a memória instintiva que alguns animais recebem dos pais. LOUIS K. FRÉDERIK Está cada vez mais claro que a configuração etapista esboçada pelas primeiras teorias psicanalíticas são incapazes de descrever a complexidade dos organismos, sejam individuais ou sociais.…
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“Ao corpo, recomenda-se sacrificá-lo”: notas para uma liposofia soberana
1. AS DIGRESSÕES DA PELE I. O corpo gordo impera ao lado dos corpos tomados como abjetos pela ocidentalidade, corresistindo com o corpo negro, com o corpo trans e com corpo da mulher na legião dos corpos que incomodam. Contra esses corpos institui-se um regime alienante de sentidos, é importante que não saibam como desejar,…
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Ninguém a culpar
Ninguém te deve nada, mas tudo tem dado errado. A quem culpar? Genética ruim, má sorte, Buda, Cristo, Deus. As terráqueas são mais fáceis. Sem sombra de dúvida, mas não facilitam. A quem perguntar para entender? Mamãe, Google, teu DNA? Textos que atravessam eclipses sobrevivem melhor. A sucessão de seus eclipses são como traduções: algo…
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NÓS E A VERDADE ou “conjunturas da verdade no tecnocapitalismo”
1. Tecnocapitalismo: a era do “pós”. Lyotard sublinha que a falência das metanarrativas é a condição da pós-modernidade, isto é: as grandes verdades narrativas que davam as coordenadas do entendimento humano sobre si e sobre o mundo se desmancharam “no ar”, como diria Marx. O cristianismo, o iluminismo e o marxismo, bem como Deus, o…
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O sintoma no espelho: A neurose obsessiva de René Descartes
1. René Zero Recentemente tive o incômodo prazer de ler “A Vida Sexual de René Descartes” de Matheus Ultra. Imagine a minha surpresa ao descobrir que o livro não se tratava do filósofo René Descartes, e que este era apenas o nome do protagonista da história. A Vida Sexual me fez lembrar de um livro…
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PRÉ-HISTÓRIA DO ESCRITOR
Transcrevo aos escritos de Ricardo Piglia/Emílio Renzi, Anos de Formação, p. 21: “Há uma série [de escritores] com a figura do copista, aquele que lê textos alheios por escrito: é a pré-história do autor moderno. E há muitos amanuenses imaginários ao longo da história que perduram até hoje: Bartebly, o espectral escrevente de Melville; Nemo, o…
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VIOLÊNCIA É COISA DE VIADINHO: um texto sobre socialismo libertário e ultraviolência queer
1. INTRODUÇÃO Não existe um consenso nas esquerdas quanto ao uso da violência como uma tática revolucionária. Essa abordagem é revisada várias vezes em Marx e Engels que ora afirmam o levante brutal da classe oprimida como inevitável e ora afirmam a possibilidade de uma revolução pacífica – ao que parece, as esquerdas se acomodaram…
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AS FANTASIAS DE ALUÍSIO DE AZEVEDO
Minha hipótese é que no século XX o dispositivo psicológico se emancipa da narração do corpo. As fantasias engendradas pelo sujeito passam a prescindir da estrutura da viagem e, no seu limite, prescindem mesmo do acontecimento; ou melhor, os acontecimentos se tornam mínimos, apenas o suficiente para desencadear o gatilho do pensamento e do inconsciente:…